segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Glossário Papa-Chibé

Vasculhando velhos arquivos, (re)descobri um "glosário papa-chibé" que fiz para um trabalho de folclore, com a ajuda do Dicionário Papa-Chibé, do jornalista Raymundo Mário Sobral, de vários e-mails que circulam pelas caixas de entrada dos paraenses (principalmente daqueles que, como eu, não moram mais no Pará e adoram relembrar a terrinha), e de amigos e familiares que dispuseram-se (e divertiram-se) a me ajudar a lembrar de várias expressões. "Toma-lhe-te":


“Açu”, “porrudo”: grande
“Aplicar”: pode significar que alguém está te contando uma mentira (“égua, aplica!”) ou então que alguém está dando em cima de outra pessoa (“Fulano já está aplicando na Ciclana. Ele é um aplicador.”)
“Aporrinhar”: encher a paciência.
“Arredar”: afastar.
“As partes”: órgãos sexuais.
“Assanhado”: “bagunçado”, geralmente usado para o cabelo.


“Bacaaaaana, né?: ironia com algo desagradável.
“Bagaça”, “onda”, “cagada”: festa, farra.
“Balão”: volta no quarteirão.
“Barco ‘pô pô pô’”: embarcação típica dos rios amazônicos, coberta e com motor de 2 tempos na popa.
“Benjamim”: T elétrico (que coloca na tomada).
“Boiado”: cheio de dinheiro.
“Boiar”: não entender o que está sendo falado.
“Borimbora”: vamos embora.
“Boró”: dinheiro trocado, geralmente moeda.
“Bréa”: calor.
“Broca”: fome ou refeição.
“Bustela”: meleca.


“Caba”: vespa.
“Cabaço”: hímem. Usado para indicar pessoas que nunca tiveram relações sexuais, tanto homem quanto mulher.
“Caboco”: adaptação de “caboclo” (mestiço de índio e branco), usada para denominar os nativos da região amazônica, mas também usado pejorativamente da mesma forma que “caipira” é usada no sudeste, como sinônimo de pessoa matuta, cafona, de mal gosto ou que quer aparecer. “Caboco” também é usado como sinônimo de “espírito”, assim como “santo” no terreiro de macumba.
“Caboquice”: matutice, cafonice, coisa ridícula.
“Cagoetar”: entregar alguém, servir de dedo-duro.
“Calango”: lagarto verde, pequeno.
“Canoa”, “encoleirado”: alguém que só sai com a(o) namorada(o).
“Carambola”, “carambela”: cambalhota.
“Carapanã”: mosquito, pernilongo
“Caratá”: pó de sujeira atrás da orelha e nas dobras do corpo.
“Catiroba”: oscila entre “ploc” e “pipira”.
“Cemitério”: jogo de queimada.
“Charlar”: exibir-se, o famoso “ver e ser visto”.
“Chope”: “geladinho”, saquinho plástico com suco congelado.
“Coque”: soco no cocuruto de alguém.
“Corta-liga”, “empata”: uma pessoa estraga prazeres.
“Cruzeta”: cabide de pendurar roupas.
“Cuíra”: estar impaciente com algo.
“Curumim” e “cunhatã (ou cunhã)”: de origem indígena, menino e menina.


“Dar a forra”: retribuir um favor ou gentileza.
“Despintado(a)”: excluído do grupo.
“Despintar”, “toco”: dar um fora.
“Despombático”: outra variação de “pomba-lesa”.
“Di rocha”, “selado”: de verdade.
“Diz que...”: expressão irônica. “Diz que ele conseguiu uma promoção. Vamos ver se é verdade.”
“Duca”: muito bom.


“Ê doido, não me neure”: dispensa explicações.
“Eaimmmmmmm”(anasalado): “oi, tudo bem contigo?”
“É-GU-A”: uma “superlativização” do “égua”, se é que isto é possível.
“Égua”: vírgula do paraense, usada entre mil de mil frases ditas e com significado que varia entre o susto, a irritação, a surpresa, a caçoada e outras milhões de possibilidades.
“Endossar”: aceitar, participar, ir junto.
“Pois é”: expressão paraense correspondente ao "então" paulista que é usada para começar uma frase.
“Enxerido(a)”: “intromedido”.
“Esbandalhar”, “escangalhar”: quebrar algum objeto (às vezes é usada de forma irônica para lesões em pessoas).
“Esmigalhar”: amassar, quebrar, tornar farelo.
“Essezinho”, “essazinha”, “esse um”, “essa uma”, “aquele um”, “aquela uma”: pronomes indicativos tipicamente paraenses.
“Estabacar”, “abostar”: cair no chão.
“Eu choro!” e “e eu kiko?!”: significa "não ligo a mínima, não tenho nada a ver com isso”.


“Farofeiro”: pessoas que levam comida para a praia.
“Fazer psica”, “secar”: desejar que algo dê errado.
“Ficar no vácuo”: ficar sem resposta.
“Filho duma égua”: “safado”, “filho da mãe”.
“Firme”: muito bom.
“Foguete”: soco.
“Fura-olho”: tomar a(o) namorada(o) do(a) amigo(a).


“Gia”: rã.
“Gito(a)”, “mirim”: pequeno(a).


“Igarapé”: córrego de rio.
“Ir pra merda”: fazer farra.


“Já me vu”: “já vou”.
“Já vale?”: expressão irônica, algo como “já vale mentir?” ou “já vale fazer tal coisa?”
“Jerimum”: abóbora.
“Jogar no pisão”: jogar aleatoriamente.


“Leso(a)”: “louco”, “que não bate bem”, “com parafusos a menos”, “bocó”, de uma forma bem particular, que talvez só quem é paraense compreenda o real significado. Gera várias outras variações e expressões como “té lese?” (tu és leso, é?).
“Levar o farelo”, “dever”: Se dar mal.
“Liga torta”: vontade estranha extraordinária.
“Liga”: nóia, vontade.
“Liso”: sem dinheiro.


“Macaca”: amarelinha.
“Malaco”, “pivete”: mal-encarado, marginal.
“Malinar”: implicar, fazer maldade.
“Mano(a)”, “maninho(a)”: forma de tratamento cordial.
“Mas assim...”: expressa discordância de algo, tipo “desse jeito não dá”.
“Mas credo”: “não faz isso”.
“Mas olha já” e “Hmmm.... Tá, cherôso!”: expressão usada para acusar uma mentira.
“Mas quando...”, “aooooonde?”: Pode ser ou uma negação verdadeira ou irônica.
“Mas quando...”, “mas ara quando...”: “Quem me dera poder tal coisa...”
“Migué”, “penoso”: “pão duro”, “pidão” ou “mentira”.
“Moleque”, “moleca”, “doido” e “doida”: tratamento extremamente comum entre amigos.
“Morrinha”, “momó”: preguiça.
“Morte”: o final de algo, no sentido “me dá a morte do teu suco?” (me dá o resto do teu suco?)
“Mufino”: sem vigor, apático.


“Osga”: lagartixa branca, de parede


“Pai d’Égua”: a mais típica expressão de elogio do paraense; significa “muito bom”, “excelente”.
“Palha”, “palhoça”, “peba”, “dispré”: algo ruim.
“Pão ‘careca’”: pão francês.
“Papagaio”: pipa.
“Papudinho”, “espuma”: pinguço, beberrão.
“Parada”: ponto de ônibus ou “coisa” (que parada é essa?)
“Paranóia!”: “que droga”, “nada a ver”.
“Pavulagem”: papo furado, frescura.
“Peso”: para enfatizar qualquer coisa. “Fomos pra lá peso”, “Foi muito bom peso”.
“Peteca”: bolinha de gude.
“Pipira”: pode designar uma mulher safada, mas serve como classificação de mulheres de feições caboclas, mal-vestidas e de gosto duvidoso.
“Pira”, “pereba”, “curuba”: ferimento.
“Pira”: “pique”, brincadeira infantil.
“Pirento”, “perebento”, “curubento”: portador de feridas, pessoa de pouca higiene pessoal.
“Pisa”, “coça”: surra.
“Pitiú”: fedor, geralmente usado para o cheiro de peixe.
“Pixé”: fedor, geralmente usado para o cheiro dos órgãos sexuais.
“Ploc”, “piva”: prostituta, mulher safada.
“Podre”: segredo ruim de alguém, defeito.
“Pomba-lesa”: “muito leso”.
“Porreta”: “Pai d’Égua!”
“Potoca”: mentira.


“Quebranto”: mau olhado.
“Quebrar”, “pegar”: “ficar”: beijar na boca. Junto com outros verbetes deste glossário forma uma das frases mais engraçadas do “dialeto” papa-chibé para pessoas de fora: “O doido foi lá, aplicou, aplicou na doida, acabaram se quebrando mas, no fim, ela despintou ele”. (O rapaz foi lá, deu em cima da moça, acabaram se beijando mas, no fim, ela deu o fora nele).
“Queimar a largada”: ficar bêbado antes de sair para a balada.
“Queimar”, “derrubar”: também significa dedurar alguém, mas sempre num sentido de falar mal, contar os “podres”.
“Queimosa”: picante. Usado para classificar o molho de pimenta.


“Ralhar”: brigar, chamar a atenção de alguém.
“Rasgar”, “vazar”, “varar”, “dar o abra”: ir embora (acompanhado de gesto no qual de agita os dedos da mão horizontalmente.


“Safo”: muito bom em algo, inteligente.
“Só te digo vai”, “Olha que o pau te acha”: expressões usadas para alertar alguém de que determinada coisa não vai dar certo.
“Su’mano(a)”: “Seu(ua) mano(a).


“Tá safo”, “selado” “selou”: “tá combinado”.
“Te coça”: paga a tua parte, passa a grana.
“Tio(a)”: forma de tratamento para pais de amigos, amigos de pais e pessoas mais velhas queridas.
“Toró”: temporal.
“Trapiche”: construção, na maioria das vezes, de madeira que adentra os limites do rio ou do mar, utilizada para embarque e desembarque de passageiros ou mercadorias bem como o pescado. conhecida popularmente em outros estados como: Porto; dique; ponte.
“Travessa”: tiara de cabelo.
“Treme Terra”: aparelhagem de techno-brega, é usado também para indicar sons muito altos.


“Umbura!”: Te apressa!
“Uuuuuuuulha”: “olha”.


“Varejeira”: mulher safada.
“Visagem”: fantasma, assombração.
“Voadeira”: lancha pequena.


“Xiri”, “charque”: órgão sexual feminino.

2 comentários:

Shirlei disse...

Ah, na literatura médica cabocla (puçanga) paraense, há uma interessante distinção entre pereba, ferida e curuba. Diz o puçangueiro: pereba, dá no pé. Curuba, dá no... Ferida, é mais eclética: dá em qualquer lugar.

Franssinete Florenzano disse...

KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK... Classifica mais essa, Gabi! Eu adorei o post. Beijoquinhas!