quinta-feira, 24 de março de 2011

O Quarto Sem Janela

Dobras de luz lá não chegam. Assim então é quase impossível dizer o que é noite e o que é dia, sem um começo. As paredes que calam os sussurros vizinhos quase choram no calor da tristeza do verão que não se espalha para dias sem fim.

A pétala última que cai não perfuma a lágrima que se recolhe e nem dá vida para uma nova flor. E lá tudo murcha e os papéis rasgados borram cântigos de amor. Azedo verde da maçã.

E são tantos atalhos para uma beleza sem igual... É tanto riso, tanta esperança, e uma enciclopédia da mais rica natureza que germina a felicidade da alma que é desprezada por nem um espelho lá haver.

Mas o escuro também chega, assim como o seco frio dos ossos que rangem tanta dor de um chorar. Mas a partida também segue e só a rua dos sem caminho consegue nisso ter plena ternura.

E assim vive, no quarto sem janela.
Até que o ar acabe.

terça-feira, 22 de março de 2011

Teus Olhos

Foi quando o tempo correu e ninguém percebeu que os acentos mudaram todos de lugar. E aí que nada encontrou o seu certo, e na angústia do desencaixe desmoronou num vale de pressões e impressões descabidas.

A luz da lua polvilhou de água a dúvida dos teus olhos.

O vento, o tempo, o nenhum lugar; silêncio, ira, manias, tremor. As luvas caem e a razão conhece toda a incapacidade do seu ser. E o ponteiro corre no caminho das ruas que suspiram pelos que dormem, e as tumbas estão lacradas.

Palavra alguma jamais um dia irá dizer o começo, meio e fim que num segundo escrevi e apaguei. E pela janela olhei, e chorei, e lembrei memórias por vir.

E o rosa das águas sujas salgam a beleza da melodia que se perde pelo ar. E os cílios molhados se fecham para uma aurora de paralisia, as curvas de uma costa.

Dos teus olhos, a certeza de uma lua sem luz.