terça-feira, 20 de outubro de 2009

Onze dias

Uma bola rolava no chão quando o grito ecoou numa sala distante e para a criança que brincava tudo era música que não se compreendia. Na sala, a calmaria distante do aconchego acalenta o sono de uma fita de cores ainda não refletida, amarrada em passos tão curtos que separam uma vida inteira e se esticam na ironia da gargalhada asmática nas escadas.
E para cima todo passo cansa e todo o tempo urge, e assim que tudo correu num piscar que inevitavelmente derrete o sorvete mas não traz o choro.
Lá longe tudo era mais próximo, e diante da multidão quatro dividiam-se em dois movimentos ao observar de cima a dança do caminhar da noite, as muitas voltas que o mundo insiste em dar para um céu tão claro de uma manhã azul, o céu que se move arredio ao farfalhar da rabiola que se perde pelo mar que molha os pés alvos e estreitos sentados na praia.
De lá, uma pedra rolou e a outra ficou, e o tempo corroeu as duas com o vento e movimento. E nos toques de trombetas que ecoaram então são descritos os onze dias que foram e passaram para chegar.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Fim do show

Atrás do palco as luzes se apagam. Os olhos ofuscados adaptam-se novamente aos reflexos da vida que passam lentamente projetados na cortina fechada.
Atrás do palco o sorriso se perde no eco das gargalhadas abafadas da multidão que se dissipa sem importar-se com quem fica.
Atrás do palco toda a graça se perde, e cada gesto delicado transforma-se lentamente num real lampejo da brutalidade dos movimentos.
Atrás do palco toda lágrima seca, e lá não há gentilezas que façam valer a pena todo o caminho de um ombro de consolo.
Atrás do palco todas as personagens morrem e suas lutas e aspirações escorrem pelo ralo das águas descartáveis da incredulidade.
Atrás do palco os ombros caem e toda a dúvida cresce no compasso dos passos amargurados dos sem destino, sem porto seguro.
Atrás do palco a cabeça se abaixa por não ter o que encarar no vazio do silêncio escuro.

Toma-lhe-te!

"Chuck Norris" belga "muquia" comediante em pegadinha!


Outubro

Era dia de achar mais nada, de ver que não tinha passado, que não era real e futuro muito menos teria, apagando as luzes como quem cerra lentamente os olhos fingindo adormecer. Era hora de virar para o lado e pelo canto do olho ver que partia sem dores e não entender o que achava ser.
Era um mundo que tinha criado e uma história em frangalhos no labirinto da sua imaginação. Uma conversa relapsa, um abraço frouxo, uma reação comedida quando nem mesmo saber dizer se era um querer.
E as rosas vermelhas acizentaram toda a pele em que tocaram para que depois fossem esquecidas num canto.
E o sorriso inventado fingiu lá ficar por muito tempo depois, e tocou o ar quente da noite sem movimento.
E a memória era falha, o caminho de escadas, o chão se fez turvo e o teto desabou no ambiente de vidro.
Aquilo tudo mexeu como um vendaval destrói um delicado penteado e as pedras nada preciosas desprenderam-se do cabelo e quebraram no chão.
Era a hora marcada, o momento esperado, o instante que era para ser o que não foi. E o futuro mudou, o som abaixou, a festa acabou e retorno não sei se há.