sábado, 13 de junho de 2009

Lua Azul

A luz apagou e o fogo morreu com uma cadência de jazz. Cobriu-se do vento frio de outono e sentiu-se tão sozinho que quase chorou. Tudo aquilo que sonhara já tinha ido por água abaixo há muito, mas recusara-se a acreditar. Se pudesse manter as idéias no pensamento, seus desejos sempre estariam lá e apegou-se nisto como se bastasse.
Algum dia, eu sei, serei chamado e então terei de ir.
Foram muitas mudanças e todas levaram ao mesmo lugar na bagunça do quarto cheirando a amendoim e café, assombrado pelo piano que um dia o enchera de blues, cortado pelos estilhaços das fotografias de quem não disse adeus.
Eu aperto minhas mãos até sentir na ponta dos dedos o pulso de minha vida.
Faróis projetaram formas em cada canto rachado pelo descaso, o círculo dourado que fora esquecido para sempre tilintou sua solidão. A noite traz cantos de lamentos, uivos de outras épocas.
Eu lembro de tudo, eu lembro de nada em meu coração.
Procurou algo para fazer com seus tão maltratados dedos, dormentes de frio. Buscou o tempo que conhecia e rendeu-se ao descanso da noite e aos encantos da melancolia sussurrada pelo sax. Fechou os olhos, lotou os pulmões e não ligou para nada mais.
O amanhã é feito para o sol, mas hoje sou a lua azul.

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