sábado, 15 de janeiro de 2011

Acorde

Você sempre responde o que eu não quero saber. Sempre me indaga, me aperta, me avisa, me recheia de medos e agonias, me importa, se exporta, me faz sem querer.

Você me enche de mato nas frestas, de poeira nas dobras, de loucura nas sobras, de orvalho nas metas. Você me traz o torpor das mãos distantes que tocam a tela e da voz vazia que diz que, mais tarde, mais tarde vai voltar.

Você faz o peito pesar ao ponto de meus olhos arrastarem-se no chão sem direção. Meu soluço, minha falta de voz, e meu estômago roncando a vontade que flutua nesse oceano de injustiça.

Você me aninha nessa vontade de calar a boca e puxar o cabelo da eloquência com que cospes tanta doçura mastigando o meu freio de viver. Cordas que se enroscam e nada mais podem produzir do que nosso acorde.


2 comentários:

Franssinete Florenzano disse...

Que tal escrever com regularidade? Tão lindo! ;)

Paola disse...

Adorei!