Prendeu a respiração e contou até dez. Aquilo o que não sabia era tudo o que acreditava, e nada poderia fazer. O frio do quarto congelou seus movimentos e cada veia latejante machucava seu braço numa espécie de penalidade por seu travamento. Tentou andar. Não pôde. Com muito esforço, sentou na cama e contemplou a parede, aquela mesma parede marcada do ano que cheguara alí, com idéias, sem noções.
E lá projetou os momentos fotografados pela memória, na bizarra falta de propósito que o tempo dá às coisas. Sentiu conforto, sentiu saudade, sentiu como se tudo aquilo não fizesse mais parte do mundo real, e sua vida transformou-se numa invencionice profunda. Até que viu a última foto.
Pela janela vieram os gritos da cidade e sem cueldade a acodaram do transe em que estava. E foi então que conseguiu aceitar, e chorou longamente por isso. Mas as lágrimas secaram e o horizonte ficou estranho, e seus braços foram se soltando para apoiar o pescoço relaxado. O futuro havia mudado mais uma vez.
Esperou por horas ser corrigida, desejou firmemente estar enganada. Suplicou ao céu as dádivas da lentidão e ignorância. Mas foi em vão, as placas da rua estavam muito longe para serem lidas.
Quando o telefone tocou, quando o messenger apitou, era tarde demais. Já estava longe, com sua roupa de domingo, conversando alto e dando gargalhadas.
Foto: Daily Mail