terça-feira, 3 de março de 2009

A arte

    A arte de implicar, é uma arte rara. Vale a pena implicar com tudo e, no final das contas, perturbar os outros não pega nada. Mas nada como os outros irritar. Por nada.

            O primeiro passo para irritar alguém é discordar de coisas óbvias:

 

- Fulano, sabes aquele carro verde?

- Carro verde? Não, acho que não... Aquilo é azul núcleo dos fiordes Noruegueses.

 

            Discordar de coisas pessoais:

 

- Teu nome não é “Paôla”, é “Páola”!!!!!!!!!!!!!!!!

 

Discordar da religião:

 

- Tu sabias que a tua igreja só existe para dar embasamento ao lucro da burguesia?

 

!

 

A medida que as sociedades ao redor do globo foram evoluindo(?), a junção com a arte de irritar (implicando, ou não) seguiu a tendência da elaboração:

 

- O que vamos fazer no nosso aniversário, amor?

- O que tu quiseres, amor.

- Poxa, amor, será que nem no nosso aniversário tu podes ser homem?

- Tu estás me chamando de gay?

- Não, eu só queria que tu fosses mais decisivo, me guiasse, sabe, eu preciso de um homem com H maiúsculo, que saiba tomar decisões. E que, no mínimo, saiba dizer o que quer.

- É? Ta certo então. Eu quero, primeiro, parar ali no boteco pra tomar uma vendo o jogo do porco. Depois, acho que vou ligar pro Luisão e pro Marcos nos encontrarem no boliche. Preciso treinar pro campeonato do mês que vem. No fim da noite, podíamos pegar um cineminha, não achas? Tá rolando uma versão remasterizada de Stalone Cobra...

-         Tu és um insensível mesmo. Não consegues pensar em mais ninguém, não?!

 

!

 

Uma das melhores, veio com os cruéis padrões da indústria hiperdesnatada da beleza:

 

- Amor, tô com fome... Vou fazer um lanche. Queres?

- Não, amor, obrigada... Tô obesa!

- Deixa disso, amor... Tu precisas comer... Eu faço um sanduba light pra ti...

- Não, querido, tu podes comer sossegado. Se eu ingerir mais meia caloria, explodo.

- Tens certeza?

- Tenho.

(Dez minutos depois...)

- Hmmm... Amor, ta cheirando... O que é?

- Pão, manteiga, muzzarella, mortadela, tomate, cheddar...

- Hmmm... Me dá um pouco?

 

!

 

O mestre na arte de irritar é como um músico. Pode nascer até sem talento, mas com o aprimoramento da técnica, é possível chegar a resultados mecânicos. Chatos, é verdade, mas no caso da arte de irritar, quer maior elogio? Além do mais, numa avaliação estatística, alguém conhece mais gênios natos musicais do que gênios natos na arte de irritar?

Esse texto me trouxe uma irritante reflexão, mas é claro que eu não vou falar qual foi, só para implicar.

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