segunda-feira, 30 de março de 2009

E se fosse

Mesmo se pudesse, não colocaria em palavras o que é, nem o que quer, nem o que faz, nem o que gosta, nem do que é capaz. Não chegaria nem partiria muito menos estaria lá, não olharia nem fingiria, não limitaria o que conjugar, esqueceria de  expressar, lembraria de ficar.

Não fugiria ao encontrar, não aparentaria não estar, falaria coisas sérias quando tudo fosse uma brincadeira, ficaria abobalhado quando a verdade chegasse, riria do nada, contemplaria o tudo, suaria as mãos, viraria fácil, dormiria no teto, esqueceria um monte, guardaria para sempre.

E por mais estranho que fosse, esconderia e compartilharia, sorriria ao ser pego, endureceria às questões, quem sabe emudeceria depois das duas, e sonharia depois da chuva, mostraria o impossível, diria nem cedo nem nunca, jamais.

Perderia todas, feliz da vida, sem pestanejar, andando de bicicleta, plantando bananeira. E tomaria sem reclamar café escaldante na tarde mais quente do ano, e tomaria sorvete em graus abaixo de zero. Nadaria nas pedras que todo dia farão seu caminho, agarraria o que ninguém quisesse, agradeceria pelo infortúnio, e com isso seria tão, tão feliz...

Seria estranho aos que passassem, normal aos que ficassem, único aos que observassem. Sentiria, aconteceria, choraria e sorriria mais que o normal, tudo isso se um dia fosse, se um dia pudesse dizer o que é, o que quer, o que faria se fosse capaz de colocar em palavras, se soubesse em que pessoa conjugar. 

3 comentários:

Franssinete Florenzano disse...

Lindo, bebê. Vou postar no meu blog. Beijoquinhas. Te amo!

Shirlei disse...

O silêncio da imperiosa voz do verbo se fez eloquente. Belo texto. Bem sei o que me fez recordar uma Ucraniana de Tchetchelnik, de lindos olhos felinos, sagitariana, como eu; visceral, como você.
bjs

Gabriella Florenzano disse...

Shirlei, estava sentindo tua falta por aqui! Não some! Bjs.